Valci Melo
Onze horas, cinquenta e nove minutos e dezenove segundos.
Desde muito cedo estava ali. “É para quem chegar primeiro” - dizia o sistema. Há
horas que se divertia naquela maldita fila trocando a escora de uma perna pela outra.
Mas faltava pouco: “mais longe já esteve” - pensava.
Chegou primeiro. Cumpriu a regra. Mas desde quando chegou
até o momento não parava de chegar gente. “Mas cheguei primeiro, ora... Serei
atendida primeiro” - pensava consigo mesma. “Tomara ver[1]
alguém passar na minha frente” - assegurava. “Mas é bonito mesmo! Depois
daqueles cinco ali serei eu”.
“Pensa que não”, uma mulherzinha magra, saia jeans
azulada e blusa meia manga cor de rosa começa a prosear com a segunda pessoa à
sua frente.
- Hei moça! Começa aqui... - informa o nonagésimo novo da
fila.
A moça finge que não escuta e continua a bater papo com a
colega que cochichando a incentiva:
- Fique ai mesmo. Ah! Quem estiver parido[2]
que se dane! Aquele sujeito não manda em nada aqui!...
- Tá! E eu vou ficar é aqui mesmo. Quem quiser “pocar[3]” que “poque”!
Os vizinhos se entreolhavam, torciam a boca, balançavam a
cabeça em sinal de desaprovação, mas para não arrumarem confusão, não diziam
nada.
- É apenas mais uma pessoa. Deixe essa “peste” para lá -
cochichava a décima quinta da fila.
- Essa vai passar, mas se outra pessoa se atrever... Hum!
Aí não vai prestar não! – murmuravam alguns.
Passou mais uma pessoa, outra, outra e outras. Todos
ficavam bravos, reclamavam para o vizinho detrás, mas deixavam surgir a próxima
oportunidade. E quando esta se fazia presente, esperavam acontecer mais uma vez.
- Graças a Deus que já é a minha vez! Nossa Senhora me
defenda deste inferno! Coisa mais mal organizada! - reclamava em silêncio.
- Pode vir senhora - ordenou a atendente.
Ela marchou rapidamente na direção do posto de
atendimento, mas logo foi educadamente interrompida:
- Só um minutinho, dona. Deixe-me atender logo está
senhorita que ela tem pressa. Pode ser?
Deu um meio sorriso. Balançou levemente a cabeça em sinal
de aprovação forçada. Recuou. Respirou profundamente. “Bem que poderia dizer umas poucas e boas” - pensou. “Desgraça
mesmo!” - continuou – “Desde às cinco horas que enfrento a fila e na minha vez Sá
fulana que chegou agora ser atendida primeiro... Deve ser gentona[4],
olha o jeito da bicha! Mas deixa pra lá. Deus tome de conta!”
2 comentários:
é isso ai mano saudades de vcs bjs amo todos vcs.
meu mano valci melo vou definir meu momento saudades,saudade é a prova que o passado valeu apenas, e que as lembranças são constantes em nossos corações.um forte abraço e um big kiss pra todos vcs lovers.sou apenas uma menina sonhadora.
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