Corrupção: desvio de conduta ou problema societário?



Valci Melo
valcimelo@hotmail.com


Observando o noticiário escrito e televisivo já há algum tempo, tenho observado que um dos temas mais recorrentes tem sido a corrupção. São casos que envolvem os governantes das variadas esferas político-administrativas (municípios, estados e União), do setor empresarial, da polícia, entre outros segmentos sociais.

De tão frequentes e da forma como são veiculadas, as notícias envolvendo esta problemática nos dão a impressão de que estamos perdidos, pois os corruptos estão por toda a parte, inclusive, no campo da política, sendo o termo corrupção quase sinônimo da palavra política.

Frente a esta situação incômoda, a principal forma de resolvê-la, segundo prescreve o debate majoritário, é endurecendo a legislação e cobrando das pessoas, individualmente, honestidade, pois, em última instância, a corrupção se trataria de um grave desvio de conduta.

Ora, não menosprezando o fato de que a honestidade – e, neste caso, a falta dela - tem seu peso, é importante não ficarmos limitados à superfície deste problema, mas buscar adentrá-lo para alcançar a raiz deste problema. Isto é, se observarmos, todos os casos de corrupção, desde o furar a fila para ser atendido primeiro ao desvio de recursos públicos têm em comum o fato de serem meios de levar vantagem em detrimento dos outros. É claro que com isso não estamos querendo nivelar os tipos de corrupção, mas chamar a atenção para o fato de que eles, independente da dimensão que tomam, têm uma raiz comum que é o individualismo burguês, o “cada um por si”, a prática de que “o mundo é dos mais espertos”.

Assim, inseridos em um tipo de sociedade que valoriza mais o ter do que o ser, no interior da qual o ter é condição indispensável para ser algo, ser alguém, o resultado é o vale-tudo pelo ter, pois as demais pessoas, antes de serem pessoas, são concorrentes.

Por fim, ressaltemos que nem estamos querendo justificar os atos de corrupção, nem tampouco igualá-los, desconsiderando as especificidades de cada situação. Pelo contrário, estamos chamando a atenção para a necessidade de reconhecimento de que não se trata de um simples desvio de conduta, de uma imoralidade, mas sim, de uma prática coerente com o projeto de sociedade em curso, sendo preciso, para o seu real enfrentamento, questionar a própria estrutura social que lhe dá origem e a alimenta.

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