DEVOTOS E DEVOÇÕES




Valci Melo
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É noite de lua clara, dezenove horas e vinte minutos. O Templo encontra-se cheio de flores e fiéis. Eis que a devoção mariana cortejada durante o mês também dedicado às mães e às noivas chegara ao seu coroamento: a derrubada da bandeira. Não sabem o que significa, mas têm certeza de que com tal gesto conquistam um pedacinho do Céu - pela intercessão de Nossa Senhora, claro!

Rezada a novena, caminham ao redor da bandeira cantando uns “benditos[1]” enquanto os homens no centro tentam arrancá-la. Em seguida, em procissão, levam a haste até a porta da igreja, onde é retirada a bandeira e as moças e rapazes tentam tocá-la a fim de saber se casarão ainda naquele ano.

As mãos cheias de flores se dirigem às imagens e as humildes faces arduamente expressam enxergar ali algo mais do que meu ímpio par de olhos pode ver.

E assim, ano após ano, embora hoje com menos força e poder de convencimento do que antigamente, se repetem os rituais e devoções que pouco ou nada dialogam com a realidade concreta do cotidiano. Mas quem não se envolver ou simplesmente questioná-los estará confrontando diretamente o próprio Deus e, solidariamente, condenado ao fogo do Inferno.


[1] Nome dado às orações e cantos populares sacros.

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