Valci Melo
Introdução
Em
época de campanha eleitoral, sobretudo no âmbito municipal, não há assunto mais
comentado do que a vida dos candidatos. E não tem problema algum quando a análise
da “vida alheia” tem como preocupação central a escolha daqueles/as que
representam as melhores condições de cuidar adequadamente daquilo que a todos
pertence: a coisa pública.
No
entanto, quando a vida dos pretendentes aos cargos eletivos se torna objeto de
discussão, na maioria das vezes, não está fundamentada na necessidade de conhecer
mais para escolher melhor. Pelo contrário, o que ocorre quase sempre é a
tentativa de alguns eleitores/as de “enfiar de goela abaixo” noutros
[eleitores] escolhas individuais realizadas única e exclusivamente a partir de
interesses pessoais. Trocando em miúdos: ao invés de se fazer um debate
saudável acerca dos riscos e possibilidades que cada candidato/a oferece para o
município, parte considerável dos eleitores/as ou evitam comentar o assunto
alegando que “todos são iguais” ou que “não precisam dos governantes para
sobreviver”, ou brigam em defesa dos nomes escolhidos, justificando o voto com
argumentos do tipo: “Ele é o cara!” “Este, sim, é bom!” “É uma pessoa legal!” “Agora
é nós!” “Agora é nós de novo”, etc.
O
primeiro tipo de eleitor/a desconhece a interferência da política na vida
cotidiana, achando que depende dela apenas aqueles que conseguem usufruir
direta e indevidamente dos recursos públicos. Esquece o mesmo que a forma como
o serviço público (educação, saúde, agricultura, assistência social,
transporte, etc.) funciona depende diretamente do tipo de governante escolhido.
Para exemplificar, basta lembrar a estes eleitores que só estamos pagando a
absurda Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP)
por que a maioria dos governantes escolhidos em 2008, especialmente a bancada
do governo, não pensou duas vezes antes de criar (Prefeitura) e aprovar (Câmara
de Vereadores) um projeto que suga o pouco dinheiro que chega às mãos do trabalhador
ruipalmeirense. E pior ainda: além de ter criado e aprovado o maldito
projeto que só serve para prejudicar o povo ruipalmeirense, esses mesmos
governantes não estão nem aí para a reivindicação das 650 pessoas (mais de 8%
do eleitorado municipal) que assinaram o Projeto de Lei de Iniciativa Popular solicitando a extinção da COSIP no município. Prova disso é que o
projeto foi entregue no mês de junho e até o momento ainda não foi votado pela
Câmara de Vereadores.
Já o
segundo tipo de eleitor, não diferente do primeiro, é cúmplice e co-responsável
por situações como a descrita acima, pois na medida em que olha apenas para o
próprio umbigo, acaba votando em pessoas que não têm o menor compromisso com a
coletividade, e sim, vê a política como uma forma de “ganhar dinheiro fácil” e
“subir na vida”.
Para
os eleitores/as que não se contemplam no tipo “indiferente” (primeiro caso) nem
na categoria “politiqueiro” (segundo caso), resta a classificação “eleitor
consciente”. Estes, mesmo sendo minoria, têm a obrigação de qualificar o
processo eleitoral, seja incluindo-se na disputa como candidato/a, seja atuando
junto à população para ajudá-la a conhecer
mais para escolher melhor. Digo isto por que, mesmo concordando com Marx e Engels, quando estes afirmam no Manifesto do Partido Comunista que “o poder político
propriamente dito é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra”
(MARX & ENGELS, 2008, p. 67) e que, portanto, “quando as diferenças de classe
desaparecerem no curso do desenvolvimento e toda a produção concentrar-se nas
mãos dos indivíduos associados, o poder
público perderá seu caráter político”
(ibidem, grifo nosso), penso que,
enquanto isso não acontece, a luta política, inclusive no âmbito estatal (com
todas as ressalvas possíveis!) ainda é uma das ferramentas capaz de contribuir
para a construção de uma nova sociedade.
Foi,
portanto, pensando no que se afirma neste último parágrafo que resolvi fazer
uma análise mais detalhada acerca das pessoas que desde 2008 se colocaram como
opção para “cuidar” da coisa pública.
E, espero, com isso, dar minha pequena contribuição não apenas na “interpretação do mundo”, mas também, no “atrevimento de transformá-lo”.
Perfil
dos candidatos entre 2008 e 2012
Os
dados aqui expostos e interpretados foram coletados diretamente na internet
através dos sites Eleições2012 (http://www.eleicoes2012.info/candidatos-senador-rui-palmeira-al/)
e Políticos
do Brasil (http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/resultado.jhtm?p=&ano-eleicao=2008&dados-cargo-disputado-id=13&dados-numero-partido=)
e não têm o menor interesse em expor aspectos da vida particular dos candidatos
– até porque isso não nos diz respeito.
No
estudo, buscamos analisar questões que indiquem o perfil geral dos candidatos
no intuito de auxiliar a reflexão daqueles eleitores que, assim como eu,
consideram que escolher um governante é um ato que exige muita
responsabilidade, pois estaremos votando em alguém que julgamos capaz de representar
e fazer bem aos 13.047 ruipalmeirenses.
Em
2008, 43 pessoas disputaram os cargos de vereador, prefeito e vice-prefeito no
município de Senador Rui Palmeira. Já em 2012, esse número subiu para 56, sendo
33 candidatos novos, isto é, que não disputaram a campanha anterior. E, “felizmente”,
não foi apenas a quantidade de pretendentes que aumentou entre a última
campanha eleitoral e a atual. Como se pode ver nos gráficos 1 e 2, houve também um aumento da participação feminina e da
juventude na disputa.
Gráfico
1: Participação das mulheres no pleito.
Fonte: Eleições2012 e Políticos do Brasil.
Gráfico
2: Faixa etária dos candidatos.
Fonte: Eleições2012 e Políticos do
Brasil.
Não
há como negar que os dados indicam um crescimento da participação feminina e um
maior envolvimento da juventude na disputa eleitoral. Contudo, seria pouco
responsável ou, no mínimo, bastante arriscado afirmar que isso significa uma
evolução e uma qualificação do tipo de candidato. Ao meu ver, parece mais
adequado fazer alguns questionamentos: 1) as mulheres candidatas são expressão
de uma vontade própria motivada pela péssima atuação dos homens que atualmente
se encontram no poder ou não passam de projetos de fantoches manuseados por mãos
e mentes quase sempre masculinas? 2) o crescimento da participação da
juventude, inclusive de pessoas com idade entre 18 e 24 anos traz alguma
perspectiva de mudança ou apenas indica que também os mais novos estão vendo a política
apenas como uma forma mais fácil e rápida de ganhar a vida? Confesso que
ficarei muito contente se conseguir responder positivamente a primeira parte de
cada um dos questionamentos!
Outro
dado curioso e carente de reflexão, como se pode ver no gráfico 3, é a ocupação dos candidatos. Tanto em 2008 como agora,
mais de 35% deles se assumem como agricultores/as – inclusive 03 dos atuais
candidatos à reeleição. Contudo, até o momento, nem consegui visualizar
propostas concretas e detalhadas dos mesmos para o setor agrícola nem uma
atuação dos atuais agricultores-vereadores em prol da área. Contradição, não?
Gráfico
3: Ocupação dos candidatos.
Fonte: Eleições2012 e Políticos do
Brasil.
Gráfico
4: Nível de escolaridade dos candidatos.
Já
no tocante à escolaridade, como nos mostra o gráfico 4, o máximo que se alcançou entre 2008 e 2012 foi uma
pequena superação do Ensino Fundamental pelo Ensino Médio. No entanto, se considerarmos
os dados individualmente, veremos que houve um aumento do número de candidatos
que não têm nem ao menos o Ensino Fundamental completo. E o curioso é que,
entre os já vereadores que não tinham concluído nem ao menos a Educação Básica,
nenhum deles apresentou alteração no nível de escolaridade nos últimos quatro anos.
Ou seja, nenhum dos atuais vereadores com formação básica incompleta (Ensino
Fundamental ou Médio) aproveitou para estudar e disputar uma eleição mais preparado.
Quer dizer: E é preciso se preparar intelectualmente para disputar uma eleição
quando grande parte dos eleitores querem saber mesmo é quanto ou o quê o candidato
tem a oferecer pelo voto? É preciso mesmo ter algum nível de escolaridade para
criar e/ou apreciar leis, fiscalizar a aplicação do dinheiro público,
administrar uma prefeitura?
Com
isso, não estou querendo dizer que basta escolher candidatos com nível de
escolaridade mais elevado e tudo estará resolvido. A experiência histórica tem
mostrado que não é bem assim. Contudo, também não vejo a necessidade de que
isso sirva de pretexto para justificar a não freqüência à escola. Pois, como
bem sabemos, não basta apenas boa vontade para termos bons resultados em nossos
empreendimentos. Vivemos numa sociedade cada vez mais complexa e letrada e não
podemos ficar “atirando no escuro”. Ou você não acha uma contradição infernal
colocar pessoas com baixíssimo nível de formação - e conhecimento - para cuidar
das questões mais complexas de nossa vida?
Considerações
finais
Diante
do exposto, você que tentou fazer uma reflexão pode – e deve – estar se
perguntando: o que tudo isso tem a ver com o meu voto? Por que tenho que me
preocupar com o perfil dos candidatos ao fazer a minha escolha?
Não
com o intuito de responder a estes questionamentos, mas apenas na intenção de
ajudar você a pensar mais sobre os mesmos, deixo algumas observações:
1) Lembre-se que quando você vota escolhe
alguém para representar não apenas você, mas os 13.047 ruipalmeirenses;
2) O perfil dos candidatos não pode ser
nem uma camisa de força, nem tampouco, um objeto descartável durante a sua
escolha eleitoral;
3) Converse com os candidatos sobre as
pretensões deles para o município, e não, sobre as vantagens que você terá caso
venham a ser eleitos;
4) Não seja um eleitor indiferente nem
politiqueiro: lembre-se que se os governantes escolhidos cuidarem bem
do nosso município todos, inclusive você, viverão melhor!
5) Ajude a construir um município melhor.
Busque conhecer mais os candidatos para fazer as melhores escolhas.
Referências
MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. 2. ed.
São Paulo: Martin Claret, 2008.
PORTAL ELEIÇÕES 2012. Candidatos Senador Rui Palmeira: Alagoas. Disponível em: <http://www.eleicoes2012.info/candidatos-senador-rui-palmeira-al/>. Acesso em: 23 ago. 2012.
PORTAL UOL NOTÍCIAS. Políticos do Brasil: eleições 2008. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/resultado.jhtm?p=&ano-eleicao=2008&dados-cargo-disputado-id=13&dados-numero-partido=>. Acesso em: 26 ago. 2012.
2 comentários:
Era muito bom que as pessoas tivessem consciência, e não pensassem somente no próprio umbigo. Melhor ainda, seria se as pessoas compreendesse que politica é vida.E ser esse eleitor consciente, é pensar no bem estar de todos.
É isso mesmo, Maria Célia!
Obviamente que no dia a dia somos quase sempre "tentados" a pensar apenas em nós mesmos ou, no máximo, naqueles/as que temos familiaridade consaguínea ou relacional.
No entanto, penso que a luta por uma sociedade melhor – e o exercício do voto consciente aí se inclui - exige outra postura, pois se trata de escolher as pessoas que cuidarão do dinheiro que sai dos bolsos de todo mundo e, portanto, deve ser investido de modo a beneficiar o máximo de pessoas possíveis, sobretudo, os mais necessitados.
Valci Melo
valcimelo@hotmail.com
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